Tenho algo muito antigo para confessar. Fiquei pensando muito nas pessoas que eu já gostei um pouco além da amizade, e agora que finalmente me assumi Demissexual, muita coisa fez mais sentido ainda. Me envolvo de uma maneira diferente, e não significa que seja menos que outros. As pessoas estão tão preocupadas em ter um relacionamento, que mais parecem gostar do status que isso confere do que da pessoa que estão de fato. Mas ok, quem sou eu para julgar um relacionamento líquido? 

Tenho muita merda guardada. Sentimentos que perduraram por bastante tempo. E do presente para o passado, quero revisitar alguns momentos. Essa vai para o cara que passei anos tendo sentimentos reprimidos.

Eu era só uma garota tola iniciando o ensino médio. Não tinha muitos amigos, eu era nova na escola e não conhecia quase ninguém. A única pessoa que eu falava mais na sala era um dos meninos que tirava sarro de mim na nossa antiga escola, só que nessa ele que era vítima disso. Que ironia, não? Ficava com medo de acontecer algo com ele. A questão é que, nos intervalos, acabei te vendo, e eu tava com problemas com meu ex - e isso é história pra outro momento. 

Enquanto resolvia esses problemas de um relacionamento fadado ao fracasso, você parecia tão sozinho. Te via na sua roda de amigos, você com seu skate na mão, e eu te achava tão lindo e ao mesmo tempo queria entender... por que você ficava sozinho? Minha nossa, estou vendo um padrão aqui? Uau..

Queria te conhecer, me aproximar mais. Todo intervalo era a mesma coisa, não importa como ou com quem eu estivesse, meu foco sempre acabava sendo você. Ficava vermelha, e ainda assim era difícil desviar o olhar, e você nunca percebeu. Comecei a me aproximar de alguns dos seus amigos ou colegas ali, e eles eram meio assustadores. Sabe o que quero dizer? E então você me dizia oi às vezes, e eu tentava te responder oi também, mas nem sempre conseguia. Travava, sabe? Mas era muito, muito bom ficar perto de você, mesmo que eu ficasse que nem uma idiota. Pelo menos você me via, nem que rapidamente. 

E aí, quando chegou o final do ano, decidi que iria me declarar pra você. Que brega, ne? Mas era seu último ano na escola e eu nunca mais iria te ver mesmo. Ia falar dos meus sentimentos, e dane-se as consequências. Me preparei pra conseguir dizer algo, e não conseguia. E então eu descobri que iria me mudar em breve, e tudo que pensei foi, "preciso falar logo, é melhor dizer do que ficar com isso preso dentro de mim". 

Te achei no facebook, não sei exatamente o que aconteceu, mas conversamos e me lembro de você falar das suas irmãs gêmeas, que aprendeu inglês jogando videogame e de como te achei inteligente. Você queria fazer relações internacionais, lembra? Acho até que começou o curso. Minhas memórias são um pouco confusas, mas me lembro de dizer que gostava de você e você ficou tipo, "o que? Sério?". Só que eu falei pra minha melhor amiga na época sobre você, mandei foto e ela pediu suas redes sociais. Ela se encantou por você, te adicionou, te seguiu. e deve ter começado a conversar contigo porque de repente ela me disse que estava apaixonada por você. Fiquei arrasada.

Me lembro de uma discussão que eu e ela tivemos, e ela foi bem clara: ou as duas esquecemos ele, ou as duas iriam brigar por ele. Fiquei tipo, que? Como assim? Você é minha melhor amiga... por que diria algo como isso? Nós ríamos de garotas que colocavam garotos na frente de amizades, e de repente eu não conseguia mais confiar nela. Não só por causa de você, tá, foi toda a situação. Não era uma competição. Ela sempre foi linda, maravilhosa, uma pessoa tão incrível. E eu era a idiota sem graça que não podia nem ir ao shopping sozinha com os amigos. Pensava comigo mesma, nem se fosse de fato uma competição, você jamais me escolheria em comparação a ela. Então eu e ela prometemos que nenhuma das duas voltaria a ter contato com você e eu te exclui.



E nisso me fechei ainda mais, mudei de escola, e a situação era tão ruim... a biblioteca não ficava aberta, e nem o meu lugar sagrado eu tinha pra me refugiar. Não que eu ficasse tão sozinha assim, nessa época minha vida virtual era intensa. Vários projetos, RPGs, ficava o tempo todo no celular e nem fazia questão  de tentar me aproximar de alguém. Pra que, se em breve eu estaria me mudando de novo e de novo e de novo? Alguém sem raízes ou laços, apenas os virtuais se mantinham.

Tentei voltar a conversar com ela. Ouvia ela dizendo que estava gostando de alguém, ou de quando estava namorando um carinha, de quando terminou com ele. Era uma merda porque os anos se passavam e eu continuava com você na minha cabeça. Era uma fantasia tão idiota. 

Acabei gostando de um rapaz, depois de séculos, porque ele invadiu meu coração como se estivesse derrubando uma porta e querendo entrar de todo jeito. Foi uma merda, não terminou bem porque ele estava em outra sintonia, e isso é historia para outro texto. Eu estava terrivelmente machucada, odiava os sentimentos que estavam por aqui. Acho que minha mente deve ter arranjado um jeito de superar isso te usando, sei lá. Porque depois voltou de novo, ficava pensando em você. Mas pensando no que? Tipo, nunca tivemos uma conversa longa, provavelmente eu sentia algo por alguém que nem existia, uma idealização minha extremamente juvenil.

E foi aí que decidi que iria falar de uma vez tudo isso pra você, como uma forma de limpar meu coração e seguir em frente. Falei com ela, claro, minha antiga amiga. Perguntei se teria algum problema se eu mandasse mensagem pra você. Fiquei chocada com o que ela me disse. Que não se importava, que nem pensava em você mais e que isso já fazia anos, mas que você era extremamente frio e ruim. Fiquei curiosa, sabe. Como ela sabia dessas coisas? A impressão que me deu foi que vocês tiveram algo. Tentei não pensar muito nisso. Achei sue número, mandei várias mensagens, nem sei exatamente o que tinha naqueles textos.

A questão é que eu queria desabafar e não esperava resposta, achava que estava anônima e você nem lembraria. Só que depois de uns dias, você disse que sabia quem eu era e até me mandou uma foto que eu tinha postado no face. Eu fui literalmente pro chão. "Isso não deveria estar acontecendo, merda". E aí eu comecei a conhecer um outro lado seu. Nem sei se você lembra, mas eu pedi sua data de aniversário, hora de nascimento e você me passou. Você disse que sua mãe era psicóloga. Achei o máximo. Eu te mandava listinhas de coisas que eu queria fazer, de coisas que eu gostava. E eu prometia a mim mesma que ia parar. Você não era meu amigo, não deveria ser. .


Sempre fui mais sonhadora, romântica, idealizadora e positiva. E você mais pé no chão, realista demais. Você falava que o mundo não era esse arco-íris que eu pintava. Eu amava quando você me respondia. Era estimulante, sabe? Era uma espécie de segredo, tinha alguém pra quem eu mandava qualquer mensagem e ninguém sabia. Mas sabe o que é pior? Acho que no fundo, em algum nível, em algum momento, você gostava de receber meus textos. Consigo te imaginar rindo, lendo as besteiras que eu mandava, e pensando, "uau, essa garota é tão estranha... mas eu gosto dela. Ela consegue alegrar meus dias". E sabe por que digo isso com convicção? Porque toda maldita vez que eu parava de mandar algo, e nossa como eu tentava te bloquear e acabar logo com isso viu, você mandava mensagem. Deve ter sido divertido por algum momento, não? Ter alguém que gosta de você ali

Então você começou a namorar, e fiquei feliz por você, de verdade. Você precisava de alguém pra sorrir, porque em muitos momentos chegava a ser triste a sua visão de mundo, tão cinza. Só que às vezes aparecia algumas fotos de vocês, e eu pensava, "isso não vai dar certo". Não foi querendo jogar praga nem nada, realmente queria que você fosse feliz. Só que alguma coisa me dizia que não era pra ser, e não foi surpresa nenhuma quando vi que vocês terminaram. Não estava te seguindo nem nada, ta? É o maldito feed. 

Mas aí você parou de usar o face, quase não entrava mais, e eu me prometia que ia parar de ver suas coisas. E de novo lá estava eu, gostando mais uma vez de uma pessoa que nem conheço direito. Novamente, mais alguns anos se passaram. Infelizmente, sou muito 8 ou 80, ou enterro de vez o sentimento ou falo tudo o que estou sentindo. O problema é que com você nenhuma das duas alternativas fez sentido. Anos se passaram, eu já falei o que sentia pra você, e mesmo assim cá estou eu...

Estou presa nessa memória infundada. Nós não somos mais adolescentes, somos adultos. Você mudou, eu mudei. Mas tá na hora de encarar a realidade, você nem deve mais pensar em mim, então por que eu continuo pensando nisso? Já se passaram 9 anos desde que eu te vi pela primeira vez. 2 anos atrás, te desejei feliz aniversário e você me respondeu com um coração. E lá estava eu pensando, "ele só respondeu a maioria das pessoas com um simples like, e aparentemente corações foram para amigos mais íntimos e familiares. Por que ele me deu um coração?". Ah, dane-se.


Sabe o que é legal? Agora sinto vontade de conhecer outra pessoa. Ele é incrível, sabe? Se eu pudesse escolher ir para uma trilha e acampar, seria com ele. Só que ele não sabe, e nunca vai saber. Porque aprendi algo com você, que é, JAMAIS FALE DOS SEUS SENTIMENTOS ASSIM PRA ALGUÉM QUE NEM SABE DIREITO DE VOCÊ. Mas não importa. A questão é que, mesmo que ainda eu pense um pouco em você, finalmente estou te superando, e você vai retornar pra onde deve. Uma memória de uma apaixonite na adolescência. 

Não te culpo por nada, ta? Nada é culpa sua. Você não é obrigado a retribuir meus sentimentos, nunca foi. Eu que fui muito intensa, explosiva. E não é sua culpa se minha mente fica voltando pra você uma e outra vez. É só que eu quero seguir em frente, e preciso desse adeus definitivo. Você me deu um presente lindo uma vez e talvez nem saiba. Você me indicou assistir o filme "o fabuloso destino de amélie poulain", disse que o filme era a minha cara. Eu amei esse filme, mesmo que na época não tenha entendido muita coisa. Ele é meu queridinho, sabe? Você nunca vai ser a pessoa que eu vou chamar de querido, mas tá tudo bem. 

Seja feliz, porque eu vou ser.

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