Você olha nos portais de vagas, procurando um emprego. A princípio, você quer um trabalho que seja de segunda à sexta, que é a escala de trabalho 5x2: você trabalha por 5 dias na semana, e folga 2 dias. Só que aí você percebe o seguinte: a maioria das vagas que aparecem, é no regime 6x1: você trabalha 6 dias por semana, e folga 1 dia. E que, em muitos casos, essa folga não tem um dia fixo pra acontecer, pode cair num final de semana, pode ser na semana, e vai ficar a critério das escalas. Infelizmente, não é algo do qual se tem muita opção de escolha, porque convenhamos: você precisa trabalhar.


Fonte: imagem retirada do site CUT - Sindicato dos Bancários


Ajudar em casa, pagar as contas. Quem dera se estivesse recebendo muito, não é? Às vezes é só o salário mínimo mesmo, talvez um pouco mais. Antes fosse uns 10, 15 mil por mês, hein? Começa a trabalhar, passa pelo período de experiência. E vai ficando cada vez mais cansado. São muitos dias de trabalho. Pega o tempo que leva pra se arrumar, no transporte, para muitas pessoas isso dá umas 2 horas pra ir e mais 2 pra voltar. - às vezes, mais. Mas novamente, você não tem tanta escolha, porque a maioria das empresas estão em regiões centrais, mas a maioria dos trabalhadores não tem condição de pagar aluguel no centro, moram mais longe. 

Aliás, esse feito tem um nome, as pessoas ficam em bairros-dormitórios: são bairros longes, porém com aluguéis mais baratos. Mas como trabalham longe e tem longos períodos de deslocamento, damos a isso o nome de Migração Pendular.

Sim, é realmente curioso pensar isso. Quantos milhões de trabalhadores não passam 4 horas por dia nos transportes? Isso dá 24 horas por semana somente nisso, ida e volta do trabalho. O que você poderia fazer com essas horas? Dormir mais? Fazer uma faculdade, estudar? Passear?

Um ônibus lotado. Se você está em São Paulo ou no Rio, metrô e trem lotado. Pessoas esmagadas, ao ponto de que, se você levantar o pé do chão, não consegue colocar o pé de volta. O famoso horário de pico. É gente fedendo, peidando, brigando. Passando mal. Torcendo pra não dar nenhum problema, porque se chegar atrasado, vai ouvir.

Quando você chega em casa, tudo dói. A mente. O corpo. Você toma um banho, come alguma coisa. Sem falar nas atividades domésticas. Fazer comida, lavar louça, lavar roupa, passar pano no chão. E bora dormir, porque amanhã começa tudo de novo.

E quem tem filhos? Quase não tem tempo pra passar com eles. A sua única folga? Não é o suficiente pra descansar. Você está tão exausto, que nem quer levantar da cama. Será que está com o famoso burnout? Mas não pode desistir, porque por menor que seja o salário, isso sustenta a casa. 

Algumas pessoas gastam tranquilamente mil reais em uma tarde no shopping. Você trabalha o mês inteiro pra receber isso.

Não consegue se planejar com antecedência, porque o dia da sua única folga muda toda semana. Pode ser numa segunda, numa quarta, num domingo. Você está à disposição da empresa todos os dias, porque se a escala muda toda semana...

Não existe feriados. Você vai trabalhar nesses dias, e talvez ganhe um salário a mais, ou ganhe banco de horas. Não é exatamente uma escolha, você está escalado e é isso. Já perdeu algum dia das mães por causa disso? Natal, ano novo? Minha mãe geralmente trabalhava no ano novo, essa é uma lembrança bem viva que tenho.

Quem nunca trabalhou na escala 6x1, não faz ideia do que é isso. Quem não pega transporte lotado, também não. Então, começam os discursos de "a economia vai quebrar". Como se a pensão dos militares não fosse alta. Como se o salário e as mordomias dos políticos também não fossem. Os camaradas que trabalham na escala 3x4 estão votando, e chamando trabalhador de vagabundo. Pega o metrô lá na Sé 7 horas da manhã, te desafio. Pega algum trem no Brás às 6. 

Estamos tão cansados desse sistema. Tão exaustos... E o preço de tudo só aumenta.


0 Comentários